sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

PROFESSORANDAS NA PRAÇA.




























Veem-se, nessas fotos, algumas das mais belas jovens juazeirenses da longínqua década de sessenta. Elas estavam fardadas porque cursavam o último ano normal pedagógico do Ginásio Mons. Macedo e tinham acabado de participar da parada do Sete de Setembro de 1967.
 Como se vê, foi na Praça Padre Cícero que posaram para esse registro fotográfico destinado a perpetuar lembranças da vida estudantil e dos encontros diários no colégio
Todas elas, sem sombra de dúvida, deram voltas aí na praça principal da cidade, de braço com amigas, passando por rapazes que volteavam em sentido contrário, nas noites de domingos e feriados.
 Eram momentos de rara emoção, porque, à época, as moças de família pouco saíam de casa, e, quando saíam, normalmente estavam acompanhadas dos pais ou pessoas mais velhas, sobrando-nos poucas chances de nos aproximarmos delas.
 Por isso, aquelas noites tinham significado especial para a juventude e eram aguardadas com grande ansiedade, sobretudo pela rapaziada.
Logo cedo, antes mesmo das 19 horas, já estávamos a postos, na praça, bem vestidos, aguardando a chegada das jovens casadoiras. Elas iam chegando agrupadas e em poucos instantes tomavam conta da área destinada ao passeio. Nem precisa dizer que vinham lindas!...
 Não perdíamos tempo em procurar um lugar estratégico para vê-las de perto. Fazíamos o rodeio em sentido contrário ao da(s) pretendida(s) ou ficávamos nos bancos à margem, vendo-as passar. Todos os lances requeriam muita pressa, porque, mal o relógio da coluna batia 20 horas, elas começavam a atender à ordem de voltar para casa.
Com elas iam-se oportunidades forçosamente adiadas, que talvez não ressurgissem mais...
 Aí só nos restava comentar os acontecimentos da noite. Era hora da troca de confidências entre os mancebos. O mesmo deveria acontecer com elas, onde estivessem naquele instante.
 A praça era, pois, o lugar ideal para a gente “encostar” nas garotas, ou seja, ir ao seu encontro e lhes falar namoro. Mas, antes, era preciso flertar. Sem o flerte, o malogro seria fatal.
 A fim de evitar a decepção de levar um fora, adotávamos medidas preventivas eficazes. A primeira era incumbir um companheiro de verificar se a menina em quem estávamos interessados olhava em nossa direção, ao tempo em que fingíamos ignorar sua passagem. A constatação positiva era meio caminho andado...
 Outras vezes demorávamos a decidir encostar – pelo receio de ser malsucedidos – e a garota deixava de corresponder a nossos olhares. Isso nos trazia grande tristeza e arrependimento pela falta de ousadia.
 Costumávamos, ainda, recorrer à mediação de terceiros – um jovem ou uma jovem amiga – para arranjar o namoro. Às vezes dava certo...
 Tudo ali significava idílio, amor romântico, sonho, paixão, fantasia...
 Quando o namoro se efetivava, íamos sentar com as garotas em bancos isolados e aí se davam as juras de amor, seguidas de cheiros cheirosos e beijos gostosos, ainda que roubados...
 A praça era bem cuidada, tinha jardins floridos, árvores frondosas, dentre as quais o secular pé de juá sem espinhos plantado pelo Patriarca, sempre verde e sereno, a testemunhar a marcha do tempo. Esbeltas palmeiras e outras árvores de pequeno e médio porte (fícus-benjamim), cujas folhas eram talhadas com a forma de animais, barcos, aviões e outras alegorias compunham também a belíssima paisagem.
 E, se não bastasse isso, de cima da Coluna da Hora, os alto-falantes do CRP nos deliciavam com variados sucessos musicais de todas as épocas, incluindo-se os da emergente Jovem Guarda.
 Assim, quem viveu aqueles anos dourados, não pode ficar imune à saudade e às gratas recordações do ponto de convergência mais importante da cinquentenária Juazeiro de então, que era a nossa querida Praça Padre Cícero.
 Francisco Néri Filho
 Fortaleza - Ceará



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