sábado, 22 de outubro de 2016

JUAZEIRO DO MEU TEMPO. JOSÉ BOAVENTURA: VISÃO ACADÊMICA - Por Jota Alcides

Prêmio Nobel de Literatura de 1957, Albert Camus(1913-1960) foi jornalista, escritor, romancista, ensaísta, conferencista, dramaturgo e filósofo francês. Era apaixonado por futebol. Chegou a fazer parte da Seleção Universitária de Futebol da França, como goleiro e bom goleiro. Em 1949, esteve no Brasil onde veio fazer palestra e ficou impressionado com a paixão dos brasileiros pelo futebol, esporte que lhe ensinou tanto e foi tão importante em sua obra filosófica-literária: "O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol". Isso pode ser ainda mais forte num país como o Brasil, onde o futebol, além de proporcionar entretenimento para grandes massas populares, é um fenômeno econômico: De acordo com o Plano de Modernização do Futebol Brasileiro, da Fundação Getúlio Vargas, o futebol no Brasil movimenta US$ 250 bilhões por ano, responde por 30 milhões de praticantes formais e não-formais; e por 300 mil empregos diretos. Tão apaixonados pelo futebol quanto Albert Camus, muitos radialistas brasileiros se fizeram famosos nas décadas de 1960 e 1970 como comentaristas no rádio: João Saldanha (Rio), "o comentarista que o Brasil consagrou"; Cláudio Carsughi (São Paulo) "o comentarista internacional"; Luiz Mendes (Rio),"o comentarista da palavra fácil", Sérgio Noronha (Rio), "o comentarista que a galera espera"; Armando Oliveira (Salvador), "o comentarista nº 01 do Brasil"; Rui Porto(Rio), "o comentarista de classe para todas as classes"; Barbosa Filho (São Paulo), "o comentarista que saiu do Norte para agradar o Brasil inteiro"; Mário Moraes (São Paulo), "o comentarista mais famoso do Brasil"; e Luis Cavalcante(Recife), "o comentarista da palavra abalizada". Para se manter bem informado sobre futebol no Brasil, os torcedores sabem que o veículo que melhor cobre, difunde e promove este esporte é o rádio. Destacam-se no Rio de Janeiro, Rádio Nacional, Rádio Globo e Rádio Tupi; em São Paulo, Rádio Bandeirantes, Rádio Jovem Pan e Rádio Record; em Belo Horizonte, Rádio Itatiaia; em Porto Alegre, Rádios Farroupilha, Rádio Gaúcha e Rádio Guaíba;no Recife, Rádio Jornal do Commércio e Rádio Clube de Pernambuco, em Curitiba, Rádio Clube Paranaense; e em Fortaleza, Rádio Verdes Mares. Estas emissoras são marcas registradas na história do rádio esportivo brasileiro.Na época de ouro do rádio no Cariri, pontificava o comentarista José Boaventura, da Rádio Iracema do Juazeiro, desde 1960. Boaventura tinha "inteligência visual", o que poucos comentaristas de futebol têm, algo veementemente criticado pelo genial escritor, ensaísta, romancista, dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues: "O pior cego é o míope. E pior que o míope é o que enxerga bem, mas não entende o que enxerga". Ou seja, o bom comentarista de futebol precisa ter "inteligência visual". Assim como tinha o sensacional craque holandês Johan Cruyff , um gênio dentro de campo, enxergando passes e espaços que ninguém mais enxergava: "Eu sempre jogava a bola para frente porque se eu a recebesse de volta, era o único jogador desmarcado". Formado em História e pós-graduado pela Universidade Regional do Cariri-Urca, radialista, professor universitário, escritor e técnico de futebol, membro titular do Instituto Cultural do Vale Caririense-ICVC, fundador do Instituto José Marrocos de Pesquisas e Estudos Sócio-Culturais e autor do livro "Escola Normal do Juazeiro - Uma experiência pioneira", ele usava o conhecimento para ampliar o seu capital cultural e para a transformação do meio-ambiente, inclusive o futebol e o rádio-esportivo, pela pedagogia da qualidade. Enquanto do outro lado, na Rádio Progresso do Juazeiro, o jovem Wilton Bezerra era uma promessa de bom comentarista, depois confirmada, na Rádio Iracema o José Boaventura já era um comentarista de conceito já realizado, consolidado, um ícone do radioesportivo caririense, com popularidade e credibilidade muito além do Juazeiro e do Cariri. Ex-funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, foi também professor da Universidade Estadual do Ceará(UECE). no Juazeiro. Como educador, Boaventura tinha o mesmo sentimento do ex-reitor da Universidade de Brasília, senador Cristovam Buarque: " O Brasil está entre os 8 melhores do mundo no futebol e fica triste. É 85º lugar em educação, mas não tem tristeza".Por isso Boaventura contribuiu muito para a expansão e a democratização do ensino superior no Cariri disseminando os cursos da UVA-Universidade do Vale do Acaraú para além do triãngulo JUABC (Juazeiro, Barbalha e Crato), alcançando Caririaçu, Milagres e Missão Velha. Boaventura era pós-graduado em Administração Escolar e Pesquisa Histórica e Sociológica pela Universidade Federal do Ceará e pela Universidade Estadual do Ceará. Com esse perfll intelectual e cultural, Boaventura poderia fazer sucesso em qualquer grande emissora do Rio ou São Paulo, pois reunia as principais qualidades de um bom comentarista esportivo: tenacidade (para defender corajosamente suas convicções mesmo que desagradem aos competidores); racionalidade (para não deixar se exaltar por paixões próprias ou das torcidas); imparcialidade (para garantir neutralidade nas análises dos clubes em disputa); objetividade ( para não produzir análise reducionista demais ou prolixa demais); honestidade (para exercício do caráter com absoluta fidelidade aos fatos reais dentro e fora das quatro linhas do gramado); previsibilidade (para apontar aos torcedores o caminho técnico ou tático da superação ou da vitória). Portanto, ser comentarista esportivo é um grande desafio, acrescentando-se que é um segmento do rádio bastante competitivo. Para se obter o sucesso, são necessárias uma boa formação cultural e uma grande experiência na especialidade. O comentarista precisa possuir conhecimento profundo das regras, terminologia e história do futebol e outros esportes. Detalhe: não pode parar de estudar, de buscar o crescimento intelectual, porque o mercado está em constante evolução. Além disso, Boaventura aproveitava os intervalos disponíveis para estudar ética, negócios esportivos, entretenimento esportivo e o papel social do futebol. Austero e severo consigo mesmo, além de metódico e perfeccionista, Boaventura submetia-se às exigências de professor de si próprio para subir degraus do conhecimento em busca do maior aprimoramento e de maior qualificação pessoal eprofissional. Conforme seu grande amigo e companheiro de muitos anos, o narrador esportivo Luiz Carlos de Lima, "estava no íntimo dele estudar, pesquisar, aprender e, o que era mais importante, ensinar a quantos se interessassem pelo seu saber". Foi assim, como autêntico professor e com sua vocação acadêmica, que ele deu grande contribuição para a qualificação da crônica esportiva do Cariri. Para ele, popularidade e credibilidade eram importantes, porém, tão ou mais importantes eram confiabilidade e respeitabilidade..E isso só se conquista pela qualificação, pela força do conhecimento e pelo estudo acadêmico. Afinal, a função principal do comentarista esportivo é cerebral, é pensante, é analisar e criticar. Meu professor de jornalismo na Universidade, escritor Luiz Beltrão o primeiro doutor em jornalismo no Brasil.,dizia que opinar para o jornalista, "não é apenas um direito, mas um dever, pois, de ofício, está incluído entre os que fazem profissão de opinar". Dessa forma, o comentarista deve buscar captar os fatos, valores e objetos que são de importância num jogo de futebol e o responder às preocupações dos torcedores. De preferência, tendo uma visão abrangente do futebol como fenômeno social, fenômeno cultural e fenômeno econômico.. Caririense, Boaventura era natural de Caririaçu, na Região Metropolitana do Juazeiro, a mesma cidade que deu o narrador esportivo Wilson Machado à Ceará Rádio Clube e o noticiarista Jota Alcides ao Rádio Clube de Pernambuco. Além da Rádio Iracema do Juazeiro, Boaventura foi comentarista esportivo da Rádio Progresso do Juazeiro e da Rádio Vale do Cariri, também do Juazeiro. Chegou a receber propostas para trabalhar na capital, mas nunca quis deixar Juazeiro, cidade que o acolheu generosamente e que ele amava. Pelo que atestam seus amigos mais próximos, Boaventura fez da sua vida um jogo de futebol. Só não venceu o tumor no pâncreas que lhe tirou a vida aos 65 anos de idade,em 21 de janeiro de 2005,mas enquanto viveu driblou os demais adversários, chutou as tristezas, superou os desafios, fez gols de felicidade e correu para o abraço da torcida que sempre lhe prestigiou com carinho, admiração, respeito e aplauso. Como Albert Camus, tudo que ele conquistou e tudo que aprendeu sobre valores humanos, sociais, morais e desportivos, foi graças ao futebol onde atuou por quase 50 anos sempre pautado pela correção, pela verdade e pela busca da perfeição, como determinava sua pedagogia da qualidade. Foi assim que honrou, dignificou, valorizou, promoveu e qualificou a combativa crônica esportiva caririense que tem feito história na imprensa do Ceará. Agora, seu nome é uma referência na paisagem urbana do Juazeiro: Praça José Boaventura, no bairro de Tiradentes. Ao celebrar a missa de corpo presente em 2005, seu amigo Padre Murilo Barreto,Vigário do Juazeiro, lembrou que José Boaventura foi um exemplo de pai, professor, homem de comunicação e da Igreja pois era membro do Encontro de Casais com Cristo (ECC).. Pelos seus estudos superiores, pelo seu magistério superior, por suas atividades de pesquisa histórica e sociológica e pelo seu engajamento cultural, José Boaventura chegou ao fim do jogo da vida qualificado e credenciado como comentarista de visão acadêmica, obtendo e acumulando alta credibilidade, densa popularidade, enorme confiabilidade e grande respeitabilidade. Deu prestígio, honra e glória à radiofonia cariiriense e ao rádio do Ceará. Valeu, Boaventura!

*Jota Alcides, jornalista e escritor, é autor de "Padre Cícero, O poder de Comunicação" e "Comunicação & Linguagem das Massas"-

sábado, 15 de outubro de 2016

JUAZEIRO DO MEU TEMPO. DANIEL WALKER: NOBRE MISSÃO - Por Jota Alcides

"Onde as necessidades do mundo e os seus talentos se cruzam, aí está a sua vocação". Este é o entendimento do filósofo grego Aristóteles considerando que vocação e talentos são coisas diferentes. Vocação é um chamado de Deus, um dom divino. Como descobriu a brilhante escritora ucraniana abrasileirada pernambucana, Clarice Lispector, "pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir". Já o mestre Danton Jobim, advogado, jornalista, escritor, professor e político brasileiro, diretor do lendário Diário Carioca (1928-1965), o jornal que mudou a imprensa brasileira, presidente da Associação Brasileira de Imprensa(1966-1972), Prêmio Maria Cabot de Jornalismo da Universidade de Columbia-EUA-(1952) e autor de "O Espírito do Jornalismo", dizia: "O jornalista é um profissional e basta que seja um homem honrado e sensato, segundo os padrões morais de seu tempo, para que cumpra sua missão". Tudo certo, mas para isso, é fundamental que tenha vocação. Um jornalista que não tenha formação superior em Jornalismo, mas tenha o espírito do jornalismo, pode ser muito mais jornalista do que um jornalista que tenha formação superior em Jornalismo, mas não tenha o espírito do Jornalismo. Juazeiro do Norte tem um exemplo emblemático: Daniel Walker, jornalista, radialista, pesquisador, professor, escritor, historiador, mas, acima de tudo, jornalista. No Juazeiro do Meu Tempo, anos finais da década de 1960, época de ouro do rádio no Cariri, Daniel Walker brilhou como redator e apresentador de jornal na Rádio Iracema do Juazeiro e como jornalista correspondente de "O Povo", então maior e mais importante jornal do Ceará. Nascido no Juazeiro em 6 de setembro de 1947, filho do ourives José Marques da Silva (Zeca Marques) e da professora Maria Almeida Marques, herdou do pai o senso de lapidação da notícia como uma jOia e da mãe o gosto pelo magistério. Formado em Biologia pela Urca e pós-graduado em Ciências pela UFC, Daniel Walker é dono do maior acervo de pesquisas e estudos sobre a história do Padre Cícero e Juazeiro o que lhe confere um título que ele muito aprecia: "Guardião da Memória do Juazeiro". Professor aposentado da Urca, é um dos fundadores do Instituto Jose Marrocos de Pesquisas Socio-Culturais-IPESC, que muito tem contribuído, de forma acadêmica, para o desenvolvimento cultural do Juazeiro. Culto, observador, pesquisador, escritor e professor, Daniel Walker parece um cientista, até fisicamente, desses de laboratório, mas, na verdade, ele usa, criativa e inteligentemente, a metodologia, a objetividade, a imparcialidade e a racionalidade da Ciência, onde tem sua formação superior, a serviço do jornalismo que é sua verdadeira vocação. Começou sua carreira jornalística, em 1964, redigindo e apresentando noticiário, na Amplificadora Domingos Sávio, que funcionava, internamente, no Colégio Salesiano do Juazeiro. Com ele, na amplificadora, os amigos Vital Tavares, Wellington Amorim, José Marques Filho, Jussier Cunha e Renato Casimiro. Logo em seguida, passou a atuar no Saci-Serviço de Altofalantes Cícerópolis no centro da cidade. Já no ano seguinte, 1965, convidado , pelo diretor da Rádio Iracema do Juazeiro, Coelho Alves, ingressou na emissora pioneira da cidade, onde ficou até 1971: "Minha maior glória no rádio foi ter redigido e apresentado, com Coelho Alves, o Grande Jornal Sonoro Iracema" e atuado ao lado de Alceli Sobreira, Maciel Silva, Aguinaldo Carlos e Geraldo Batista", confessa. Paralelamente ao trabalho no rádio, foi Redator-Chefe do jornal "Tribuna do Juazeiro", fundado pelo jornalista Aldemir Sobreira, e correspondente do jornal O Povo, de Fortaleza, de 1965 a 1972, quando ganhou muito prestígio na sociedade do Juazeiro e do Cariri: "Foi minha glória jornalística", resume com saudade do tempo em que éramos saudavelmente arrastados pelos ventos dos sonhos. Em 1984, realizou seu sonho de ser dono de uma emissora de rádio. Ao lado de Coelho Alves, Cícero Antônio, Francisco Silva Lima e Adauto Bezerra Junior, inaugurou a Rádio Transcariri-FM, a primeira emissora FM do interior do Ceará., hoje Radio Tempo, denominação que não significa nada para o povo do Juazeiro. Então, como Secretário de Redação da antiga EBN-Empresa Brasileira de Notícias, eu tinha relações institucionais e de amizade com Rubens Furtado, Secretario de Radiodifusao do Ministério das Comunicações, e dei minha forcinha para que esse sonho se realizasse. Com satisfação, compareci à inauguração da emissora, em 21 de abril de 1984, um momento de grande alegria para o Juazeiro. Como escritor, Daniel Walker é autor de vários livros sobre Padre Cícero e Juazeiro, entre eles Sabedoria do Padre Cícero, História da Independência de Juazeiro do Norte, O Pensamento vivo de Padre Cícero e Padre Cícero na Berlinda. Em todas essas atividades, Daniel Walker sempre demonstrou, claramente, possuir o espírito do jornalismo de Danton Jobim, atuando com habilidade, sensibilidade, criatividade, sagacidade, instinto, isenção, inteligência, humanismo, ética, competência, honestidade e responsabilidade. Carrega consigo uma carga preciosa de formação cultural e de formação moral, adquirida no Colégio Salesiano do Juazeiro, onde estudou de 1961 e 1964, tempo do inesquecível diretor Padre Gino Moratelli, que parecia mais um afável reitor. Lá passou os melhores momentos de sua vida estudantil, acumulando conhecimento num ambiente saudável de muita alegria, afeição, criatividade, companheirismo, confraternização e emoção. Para seu amigo de mais de 50 anos, professor e pesquisador Renato Casimiro, Daniel Walker é "um exemplo de personalidade irretocável". Com a chegada da Internet e das novas tecnologias de informação e comunicação, Daniel Walker tornou-se criador do primeiro jornal eletrônico de Juazeiro, o Juaonline, fundado em 2004. Depois de completar 250 edições, o jornal virou o Portal de Juazeiro (www.portaldejuazeiro.com), até hoje um dos mais importantes sites noticiosos da região do Cariri. É um jornalista nato, por vocação. É formado em Biologia, que estuda a vida humana enquanto existência, mas sua praia, onde nada de braçadas, é mesmo o Jornalismo, que estuda a vida humana, enquanto convivência. Para se alcançar o sucesso profissional no jornalismo é preciso exercê-lo com vocação, caráter, ética, talento, esforço, disciplina e dedicação. Daniel Walker reúne isso tudo e segue o mandamento que está numa frase do genial Gabriel Garcia Marquez: "A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro". Nesse sentido, é recomendável às novas gerações do Juazeiro que desejam seguir o caminho do Jornalismo, agora que existe o Curso de Jornalismo na Universidade Federal do Cariri(UFCA), no Juazeiro, que só o façam se tiverem vocação. Quem usa o Jornalismo para ganhar dinheiro, adquirir riqueza, não faz jornalismo, faz picaretagem e disso também há exemplo no Juazeiro, infelizmente. Picaretagem não é jornalismo, é picaretagem. E picaretagem não tem a companhia do besouro da ética. Portanto, em primeiro lugar vocação, porque mais do que profissão, o jornalismo é vocação. Sou jornalista formado na Universidade Católica de Pernambuco e pós-graduado pela Universidade de Brasília, estou chegando aos 50 anos de carreira, já ocupei cargos diretivos importantes em grandes empresas de comunicação do Brasil (Rede Globo, Jornal do Commércio, do Recife, e Correio Braziliense, de Brasília), e posso garantir-lhes que a força motriz de tudo é, o tempo todo, minha vocação, que descobri aos 12 anos fazendo jornais murais como estudante salesiano. Quando se faz Jornalismo por vocação, faz-se não por obrigação, mas por diletantismo, condição básica para a realização pessoal e profissional. O sentido obrigatório tira o prazer, a ausência de prazer trava a criatividade, a falta de criatividade bloqueia a dedicação, e a falta de dedicação impede a chegada ao sucesso. Eficiência, competência e experiência são importantes, mas somente a vocação gera resolução, dedicação, comando e liderança para o jornalista ser diferenciado. O modelo empresarial do jornalismo está mudando por causa da WEB e das novas tecnologias. Paradoxalmente, enquanto o jornalismo tradicional está quebrado ou quebrando pelos custos altíssimos e pela queda da receita publicitária, nunca na história da humanidade as pessoas consumiram tantas notícias. Uma coisa essencial do jornalismo, porém, não muda: vocação com sentido de missão. Assim sendo, sigam o exemplo de Daniel Walker, que descobriu cedo sua verdadeira vocação e atendeu ao seu chamado fervorosa e generosamente cruzando seus talentos com as necessidades do Juazeiro, sempre sob a bandeira do diletantismo.. Ganhou o sucesso inevitável, pois como já proclamou o jornalista, editor, escritor, filantropo, abolicionista, cientista e diplomata estadunidense Benjamim Franklin, "aquele que tem uma profissão tem um bem; aquele que tem uma vocação tem um cargo de proveito e honra". Daniel Walker acreditou na sua vocação como um dom irrevogável de Deus sendo extremamente fiel à sua missão e contribuindo inquestionavelmente para o enriquecimento, o prestígio e a grandeza da história da imprensa no Cariri. Desse modo, realizou o seu próprio destino de felicidade, questão de honra ao mérito. Afinal, Daniel é a prova de que jornalismo não é profissão, é vocação. E a missão de Deus para cada um está escrita na vocação. No caso do Jornalismo, a missão principal é reproduzir e interpretar a realidade, induzir e promover intenções, disseminar ideias, cultivar ideais, preservar valores e mudar comportamentos, influenciando o metabolismo social e contribuindo para a transformação e o desenvolvimento da sociedade. É uma missão amplamente nobre e apaixonante. E Daniel Walker tem vivido ao longo dos últimos 51 anos esse Espírito do Jornalismo, cruzando seus talentos com as necessidades do Juazeiro, assim obtendo reconhecido sucesso e merecido aplauso, pelo seu saber histórico, como historiador do passado e professor de história do presente fazendo a história do futuro. Parabéns!. .

*Jota Alcides, jornalista e escritor, é autor de "Padre Cícero, O poder de Comunicação" e "Comunicação & Linguagem das Massas"-


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

JUAZEIRO DO MEU TEMPO: PROGRAMA A FACE DO MISTÉRIO - Por Jota Alcides

Ninguém pode subestimar o medo porque o medo fascina, sobretudo se tiver a força do mistério. O medo é capaz de levar os medrosos à transformação de pensamentos fantasiosos em fatos fabulosos. Como dizia Albert Einstein, "a mais bela coisa que podemos vivenciar é o mistério. Ele é a fonte de qualquer arte verdadeira e qualquer ciência. Aquele que desconhece esta emoção, aquele que não pára mais para pensar e não se fascina, está como morto: seus olhos estão fechados".Eis o argumento que pode ter gerado,sustentado e promovido o programa de maior audiência na história da radiofonia caririense. "A partir de agora, se você não tem nervos bons, desligue o rádio e vá dormir". Com este alerta preventivo e provocativo, assim começava o programa "A Face do Mistério", toda terça-feira à noite na Rádio Progresso do Juazeiro, nos anos dourados ao final da década de 1960.. Era uma audiência monstruosa, graças ao nível alto de assombração. Dirigido pelo jornalista e dramaturgo Menezes Barbosa, o programa era aguardado com ansiedade até a sua apresentação. Juazeiro inteiro parava diante do rádio em atenção e tensão acompanhando as peripécias e maldades do monstro. Nessa atração do gênero rádio-teatro, Menezes Barbosa exercitava com desenvoltura sua experiência e sua criatividade de dramaturgo que vinha evoluindo desde o tempo em que estudava no Liceu Cearense, em Fortaleza, últimos anos da década de 1930. Sua aptidão para o teatro era tão forte que, ao deixar o Liceu Cearense voltando para Juazeiro, a primeira coisa que fez na sua cidade foi criar o grupo Teatro-Escola do Juazeiro. Esse grupo fez um show memorável com a participação da excelente atriz juazeirense Albertina Marquise Branca, que morava no Rio de Janeiro onde tinha importante presença no circuito artístico e hoje é nome de teatro no Juazeiro. Cada vez mais entusiasmado com a dramaturgia, Menezes Barbosa resolveu inserir o teatro na programação da Rádio Progresso do Juazeiro. Elenco de "A Face Ministério" era mais ou menos fixo. O principal papel, o de monstro, horripilante e aterrorizante, era de João Barbosa, gerente comercial da emissora, figura humana maravilhosa, brimcalhona, bonachona, sempre de bem com a vida. João Barbosa adorava assustar os ouvintes, seu saco de maldades estava sempre cheio. Com perfil humano totalmente ao contrário do perfil de monstro, João Barbosa surpreendia se transformando em criatura perversa e cruel que parecia ter saído das profundas de uma caverna de horrores. Ou então feito um animal bizarro como um lobisomem, desses que fazem parte das lendas urbanas. João Sobreira e Wilton Bezerra, versáteis, faziam papéis variados de acordo com os episódios. Isabel Lavor era a mocinha dos gritos de horror que deixava audiência arrepiada. Aguinaldo Carlos fazia a "alma penada". José Hermano, responsável técnico da rádio, era "o cavalo da meia noite", relinchando melhor do que muitos cavalos e deixando o elenco de respiração presa contendo as gargalhadas. Além do desempenho formidável do elenco, chamava a atenção a sonoplastia do programa com seus efeitos especiais improvisados. Exemplos: o próprio Menezes Barbosa batia tamancos sobre a mesa do estúdio imitando os passos de um cavalo. Ou então balançava um pedaço de folha de zinco para fazer o barulho de chuva e de trovões. O que não faltava era imaginação. Menezes Barbosa, sozinho, já tinha criatividade para encher vários teatros com histórias de grande atração e ainda contava com a ajuda do elenco que tinha prazer em dar as mais absurdas sugestões. "A Face do Mistério" era uma peça semanal. Com seu talento crativo e sua sensibilidade, Menezes Barbosa fazia a Rádio Progresso reviver os anos dourados do radio-teatro brasileiro, nas décadas de 1940 e 1950,sobretudo na Rádio Nacional do Rio, onde brilhava o escritor Dias Gomes. Naquele tempo, os programas costumavam ter os nomes dos patrocinadores. O primeiro foi o Grande Teatro De Millus. Depois, passou a chama-se Grande Teatro Orniex, fabricante dos lustra-móveis Shell. "Os Miseráveis", "O Homem que ri",. "Madame Bovary", "O retrato de Doryan Grey", "A dama das camélias", "O corcunda de Notre Dame", "O morro dos ventos uivantes" e muitos outros títulos fizeram o sucesso do Grande Teatro de Dias Gomes, que durou quase duas décadas. Outro grande sucesso na Rádio Nacional foi o Teatro de Mistério que ficou no ar durante anos líder de audiência no Brasil inteiro. Na Rádio Progresso do Juazeiro, como quase todos os barulhos de "A Face do Mistério" tinham origem na mesa do estúdio, ela é quem mais sofria levando porradas que se transformavam em efeitos especiais com impacto de assombração e medo. Para os ouvintes, era assombração, para os participantes do elenco era diversão. "Era bom demais", testemunha Aguinaldo Carlos, que caprichava ao extremo no seu papel de alma penada. Ao final do programa, todos saiam felizes, rindo e comentando a performance de cada um. Hermano, por sua imitação de cavalo muito próxima da autenticidade, figura humilde e generosa, divertia-se com a própria cavalice e prometia que no próximo programa iria relinchar melhor.Já o brincalhão João Barbosa comemorava seu desempenho como monstro: "Conheci uma senhora, dona Violeta, que assiste o programa toda semana morrendo de medo. Disse-me que na hora do monstro corre para junto do seu oratório onde fica rezando e tremendo. Fica batendo o queixo, quanto mais treme mais reza, quanto mais reza mais treme. E mesmo depois que o programa acaba, o medo continua e a tremura também. Eita povo para gostar de assombração..."(risos). Durante a semana, Menezes Barbosa recebia dezenas de cartas de ouvintes contando "causos" reais de fantasmas, assombrações, estranhas criaturas e almas penadas. Garantiam os ouvintes que eram histórias verdadeiras, fatos verídicos, experiências reais do além, coisas de espíritos e do sobrenatural. Quem não já ouviu falar numa mulher misteriosa e fantasmagórica sem olhos vagando numa estrada deserta à noite pedindo carona? Pois bem, em respeito a todos os ouvintes que tinham tido alguma experiência sobrenatural, Menezes Barbosa fazia uma seleção dos "causos" potencialmente mais assustadores e lhes dava um tratamento romanceado e dramático. Não inventava nada, apenas aumentava um pouquinho. Em seus textos de cada episódio, ele não economizava pesadelos, dores ,medos, assombrações, fantasmas, silêncios, segredos, suspense, gritos, choros e ranger de dentes. Com esses ingredientes, o programa tinha altíssima popularidade. O ápice da confusão era quando o monstro , Joao Barbosa, partia para o ataque fatal à mocinha que ficava aos gritos pedindo socorro, provocando apreensão e desespero entre os ouvintes. Fora do estúdio, com os colegas da emissora, Joao Barbosa, com seu tino comercial aguçado, elogiava o irmão e deixava um recado insinuante: "Geraldo descobriu um negócio da China, que mexe com todo mundo, mexe com Juazeiro inteiro. É calafrio geral...Só falta agora a gente saber como ganhar dinheiro com esse negócio...Talvez vendendo calmantes!" (risos). Paradoxalmente, quanto mais a Rádio Progresso alertava os ouvintes sem bons nervos para que não assistissem "A Face do Mistério", mais aumentava a audiência do programa mal-assombrado. Assim era Juazeiro do Meu Tempo, onde o povo muito religioso por influência do Padre Cícero ficava, no mínimo,desconfiado de seres sinistros e embruscados com sua influência diabólica ainda que estivessem apenas na imaginação de uma produção radiofônica. Com sua aptidão psicológica, Menezes Barbosa sabia que a arrepiação de fantasmas que se escondem entre sombras e silhuetas mexe com o imaginário popular. Nessa época, tínhamos nas ondas do rádio no Juazeiro,, um mestre do suspense, um mestre do terror, um mestre da assombração explorando dramaturgicamente "A Face do Mistério" e causando "frenesi" , como Alfred Hitchcock no cinema. Era arte pura, teatro ao vivo, um programa para ser exibido em qualquer das grandes emissoras brasileiras com êxito garantido. Se fosse numa rádio de Nova Iorque seria, com certeza, um estrondoso sucesso popular. Basta lembrar a façanha do cineasta norte-americano Orson Welles (1915-1985), escritor, produtor e diretor teatral: Era uma noite normal de 30 de outubro de 1938, até que a rádio CBS de Nova Iorque interrompeu sua programação musical e anunciou. em edição extraordinária, uma invasão de marcianos. A notícia se espalhou feito rastilho de pólvora. Milhares de americanos, aterrorizados, fugiram de suas casas procurando um abrigo mais seguro, enquanto outros mihares ficaram ao pé do rádio morrendo de medo.Na verdade, era o começo de uma peça de radioteatro de Orson Welles que ajudou a CBS a bater a emissora concorrente, NBC, e desencadeou pânico geral nos Estados Unidos. Episódio conhecido como "Guerra dos Mundos", com a falsa invasão dos marcianos, durou apenas uma hora, mas marcou definitivamente a história mundial do rádio. No Juazeiro do final da década de 1960, toda terça-feira à noite, ficava todo mundo morrendo de medo, mas ninguém desligava o rádio para não perder nada de "A Face do Mistério", que marcou a história da radiofonia caririrnse. Era todo mundo ligado, mesmo com medo de o monstro aparecer em casa...Mais do que isso só o soluço das almas penadas com o dramaturgo fenomenal Garcia Lorca, cheio de razão: "todas as coisas têm seu mistério". Quase 50 anos depois, "A Face do Mistério" ainda é um programa lembradíssimo no Cariri: "Se você tem nervos fracos, desligue o rádio e vá dormir.." Vixe Maria!.

*Jota Alcides, jornalista e escritor, é autor de "Padre Cícero, O poder de Comunicação" e "Padre Cícero segundo Mestre Athayde".-

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

JUAZEIRO DO MEU TEMPO: Lourival Marques, gênio do rádio - Por Jota Alcides

Maior cidade do interior do Ceará, Juazeiro do Norte tem duas estações geradoras de televisão e oito emissoras de rádio. É o maior centro de radiodifusão do interior cearense. Na época de ouro do rádio no Cariri, finais dos anos 1960, Juazeiro brilhou com grandes nomes da radiofonia, inclusive exportando alguns valores para várias capitais: Carlúcio Pereira (Radio Sociedade da Bahia e Rádio Cruzeiro da Bahia); Jota Alcides (Rádio Clube de Pernambuco e Rádio Capibaribe do Recife), João Sobreira (Rádio Clube de Goiânia e Rádio Universitária de Goiânia), Wilton Bezerra (Rádio Uirapuru de Fortaleza e Rádio Verdes Mares de Fortaleza). Antes destes, Juazeiro já tinha exportado para São Paulo um radialista completo, Alceli Sobreira (Rádio Piratininga de São Paulo e Rádio Eldorado de São Pulo). Mas, essa história de Juazeiro exportar talentos radiofônicos começou bem antes, lá atrás, nos anos 1940. Quem abriu as portas do mercado radiofônico brasileiro para Juazeiro foi Lourival Marques que se celebrizou como Diretor Artístico da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e inscreveu seu nome entre os maiores vultos da radiofonia do País. Filho do jornalista Sebastião Marques dos Santos e Maria da Conceição Marques, Lourival Marques de Melo nasceu no Juazeiro em 15 de novembro de 1915., Ainda muito jovem teve dois momentos importantes com Padre Cícero, o fundador do Juazeiro: aluno da professora Amália Xavier, no Grupo Escolar, no fim do ano 1929 recebeu certificado do Curso Primário,em solenidade presidida pelo Padre Cícero. Em 1934, com 19 anos, testemunhou a multidão chorando a morte do Padre Cícero e escreveu uma crônica vigorosa: "Quando cheguei à janela tive a impressão de que alguma coisa monstruosa sucedia na cidade. Que espetáculo horroroso, esse de milhares de pessoas alucinadas, correndo pelas ruas afora, chorando, gritando, arrepelando-se... Foi então que se soube... O Padre Cícero falecera... Eu, sem ser fanático, senti uma vontade louca de chorar, de sair aos gritos, como toda aquela gente, em direção à casa desse homem, que não teve igual em bondade e nem teve igual em ser caluniado. Um caudal de mais de 40 mil pessoas atropelava-se, esmagava-se na ânsia de chegar à casa do reverendo... O povo, uma onda enorme, invadiu tudo, derrubando quem se interpôs de permeio, quebrando portas, passando por cima de tudo. Pediu-se reforço à polícia, mas o delegado recusou, alegando que o Padre era do povo e continuava a ser do povo". Lourival Marques, juazeirense, começou sua carreira radiofônica em 1937 como um dos fundadores do Centro Regional de Publicidade, rede de 18 alto-falantes em Juazeiro do Norte, primeira difusora de notícias, comerciais e de utilidade publica da região do Cariri. Seis anos depois, em 1943, deixou Aderson Braz em seu lugar e foi trabalhar em Fortaleza, na Ceará Radio Clube, então primeira e única emissora de rádio no Estado. Sua passagem pela PRE-9 foi discreta, sem chance para demonstrar . seu grande talento. Como era muito criativo e produtivo, resolveu ir para o Rio de Janeiro em 1945.. Ingressou na famosa PRA-9 Rádio Mayrink Veiga, onde lançou seu primeiro programa no Rio "Recordações em Desfile", em 1945, e depois na Rádio Globo, onde produziu e apresentou o programa "Cenas Brasileiras". Já nessa época, o cronista Alziro Zarur o destacou em sua página no jornal A Noite: "Esse Lourival Marques é uma avis rara da radiolândia carioca". Nessas duas emissoras, produziu mais de 20 programas. Depois, foi para a Rádio Nacional PRE-8. Quando Lourival Marques entrou em 15 de agosto de 1950, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, instalada num edifício de 22 andares na Praça Mauá, foi que se deu conta do gigantismo da então principal emissora do Brasil em comparação à modesta Ceará Rádio Clube: nove diretores, 240 funcionários administrativos, dez maestros, 33 locutores, 124 músicos, 55 radiatores, 39 radiatrizes, 52 cantores, 44 cantoras, dezoito produtores, um fotógrafo, 13 informantes, cinco repórteres, 24 redatores e quatro secretários de redação. Era uma indústria, uma fábrica de sonhos. Sentiu que tinha chegado ao seu lugar. Passou a fazer parte de um timaço dos melhores produtores de programas e de peças de radioteatro do Brasl que se tornaram grandes sucessos: "Coisas do Arco da Velha", de Floriano Faissal; "Gente que brilha" e "Nada além de 2 minutos", de Paulo Roberto; "Clube das donas de casa", de Lourival Marques; "Grande espetáculo Brahma", de Mario Meira Guimarães; "Hoje tem espetáculo", de Paulo Gracindo; "Música e beleza", de Roberto Faissal; "Nova Historia do Rio pela música" e "Recolhendo o folclore", de Almirante; "Passatempo Gessy", de Jota Rui; "Rádiosemana", de Hélio do Soveral; "Roteiro 21", de Dinarte Armando; "Seu criado, Superflit", de Lourival Marques e "Todos cantam sua terra", de Dias Gomes, "A vida que a gente leva" e "Boa tarde, madame", com Lucia Helena; "Consultório sentimental", com Helena Sangirardi; "Edifício Balança mas não cai", com Paulo Gracindo; "Grande Teatro De Millus", com Dias Gomes; "Jararaca e Ratinho", com Joe Lester; "Marlene, meu bem", com Mário Lago; "Os grandes amores da História", com Saint Clair Lopes; "Sabe da última?", com Rui Amaral e "Tancredo e Trancado", com Giuseppe Ghiaroni. Com o imenso sucesso de suas produções, virou Diretor Artístico da Rádio Nacional.O cast da emissora estava repleto de astros e estrelas da música brasileira: Orlando Silva, Ataulfo Alves, Carlos Galhardo, Linda Batista, Luiz Gonzaga, Carmen Costa, Nelson Gonçalves, Paulo Tapajós, Albertinho Fortuna, Carmélia Alves, Luiz Vieira, Zezé Gonzaga, Gilberto Milfont, Heleninha Costa, Ademilde Fonseca, Nora Ney, Jorge Goulart, Neuza Maria, Adelaide Chiozzo, Jorge Fernandes, Dolores Duran, Lenita Bruno, Carminha Mascarenhas. Em 1951, Lourival Marques criou e lançou na Radio Nacional o programa que fez o maior sucesso até 1966: "Seu Criado, Obrigado". Sua secretária, Dayse Lúcidi, depois famosa disck-joquei, lia as perguntas dos ouvintes feitas por cartas, e o locutor César Ladeira, a mais bela voz do rádio brasileiro, apresentava as respostas com grande respeito, carinho e atenção. Foi um dos programas de maior audiência na história do rádio brasileiro. Com o enorme sucesso, atendendo aos pedidos dos ouvintes, Lourival publicou em 1.963 o livro "Seu Criado, Obrigado", com nomes e endereços dos ouvintes, suas perguntas e as devidas respostas. Homem de pesquisa, possuia uma enorme biblioteca onde colecionava jornais e revistas nacionais e estrangeiros que usava no apoio aos seus programas. Para aprimorar suas produções chegou a fazer estágio em rádio nos Estados Unidos. Além de "Seu Criado, Obrigado", Lourival Marques criou e lançou vários outros programas que se tornaram grandes atrações na Rádio Nacional: "Bahia dos meus amores", "A musica e o Dia", "Gente que faz a gente cantar","Radio Revista", "Dicionário dos Extremos", "Brasil pais dos mil Ritmos","Em cima do Fato", "Clube das donas de Casa". Mais programas de grande sucesso de Lourival Marques: Os locutores Jorge Cury e Reinaldo Costa anunciavam: "A Canção da Lembrança é um progrrama de Lourival Marques para Phimatosan, o tônico poderoso".. Era um dos mais lindos programas noturnos da Nacional, de extremo bom gosto. Sobre isso, ele declarou em 12 de outubro de 1948 em enrevista à Noite Ilustrada: O programa "Cenas Brasileiras", na Radio Globo, foi muito importante para mim porque foi o primeiro encontro com uma coisa chamada Phimatozan, o patrocinador. Eles gostaram tanto de mim que mais tarde, muito mais tarde, quando eu passei para a Radio Nacional, eles foram me procurar e me deram um programa que mantive durante muito tempo, que foi "A Canção da Lembrança". Constava de um glamuroso bate-papo entre um casal que ficava recordando músicas de filmes antigos. O casal lembrava e falava sobre um filme e sua canção-tema. Então, vinha a música, com um cantor ao vivo à frente de uma grande orquestra. Lourival era dono de um invejável arquivo musical. Outros programas que Lourival Maques escreveu com muito brlho foram 'Radio Almanaque Kolynos" e "Um milhão de Melodias". Em 1976, Lourival Marques escreveu o programa comemorativo dos 40 anos de história e de sucesso da Rádio Nacional. Usou uma série de entrevistas que ele fez com os mais famosos produtores, escritores, atores e locutores da Rádio Nacional na Era de Ouro do Rádio brasileiro. É um documento para a história. Ele escrevia muito. Ele próprio revelou no livro "Seu Criado, Obrigado" que escrevia, mensalmente, cerca de 500 páginas de programas para o rádio.Com tanta abrangência e influência que o cronista Rubem Braga chegou a declarar: "O povo brasileiro fala a língua da Rádio Nacional". Todos os programas criados ou escritos por Lourival Marques eram considerados um brinde à inteligência. Lourival Marques não tinha vícios. Seu vício era o trabalho. Não fumava e gostava de escrever durante o dia. Curiosamente, não ouvia seus programas. Casado com Maria Landim Marques, Lourival Marques teve duas filhas: Rosa Jaqueline e Carolina Landim. Deixou a Rádio Nacional em 01 de julho de 1978. Ficou morando no Rio, mas caiu no Vale dos Esquecidos. Entrou em depressão e passou seus últimos anos de vida em auto-reclusão. Morreu em data desconhecida. Até por sua ex-secretária Dayse Lúcidi. Nenhum jornal deu. Por mais incrível que pareça, nem a Rádio Nacional sabe. Apesar desse final insólito, Lourival Marques foi um gênio genial. Grande orgulho do Juazeiro na gloriosa história do rádio brasileiro.






*Jota Alcides, jornalista e escritor, é autor de "PRA-8 O Rádio no Brasil" e "O Último Repórter Esso".-