sábado, 12 de junho de 2010

A CHEGADA DA LUZ DE PAULO AFONSO EM JUAZEIRO
















Praça do Cinquentenário. Carlos Alberto

Tenho muitas lembranças agradáveis dos anos 60 em Juazeiro. No momento, quero relembrar um dos acontecimentos mais importantes para a nossa cidade e que mais marcou minha adolescência. Foi a chegada da energia da CHESF, ou da luz de Paulo Afonso, como era chamada a energia elétrica proveniente da hidroelétrica de São Francisco. O fato ocorreu no início da década de 60, mais precisamente no dia 22 de julho de 1961, data em que foi oficialmente comemorado o Cinquentenário de emancipação política de Juazeiro do Norte.
Para marcar para a posteridade este grande acontecimento, foi também inaugurada a Praça do Cinquentenário e construído um monumento. Ambas as obras foram mal feitas e tinham um estilo arquitetônico duvidoso. Foram construídas às pressas e, no dia da inauguração, apresentavam aspecto de inacabadas. Estas obras foram implantadas na nossa inesquecível pracinha, o lugar de nossas brincadeiras de criança, e foram demolidas anos depois para a construção do Memorial Padre Cícero. Quer dizer, foram construções provisórias e, no final das contas, a cidade ficou sem nenhum marco indicativo da chegada da energia de Paulo Afonso. A placa comemorativa, que estava afixada no monumento demolido, não foi reposicionada na nova obra do Memorial. Aliás, não sei se esta placa sumiu na demolição ou se ainda existe, abandonada em algum depósito da Prefeitura.
Mas não é minha intenção no momento fazer nenhuma crítica a esses fatos. Eu quero mesmo é deixar meu registro sobre o mais importante acontecimento ocorrido na década de 60 em Juazeiro.
A solenidade de implantação da energia de Paulo Afonso contou com a presença dos mais importantes políticos do estado e do governo federal, além de diversas autoridades. Todos ocuparam o palanque montado na recém inaugurada praça do cinqüentenário e alguns fizeram discursos ufanistas, agradecendo os esforços do presidente da república e do governo do estado e, como não poderia deixar de ser, enaltecendo o nosso Padre Cícero. Foi tudo muito correto, sem disputas políticas e com muitos aplausos da grande multidão presente.
Era um momento de euforia geral e os juazeirenses estavam agradecidos. Lembro-me que um dos oradores citou uma profecia atribuída a Padre Cícero, segundo a qual um dia as águas do rio São Francisco banhariam as ruas de Juazeiro. De acordo com esse orador, o padre Cícero teria usado uma metáfora e que, quando falou em águas banhando as ruas de Juazeiro, ele quis se referir justamente aos fios elétricos que conduziam a energia gerada na usina de Paulo Afonso. Vários anos depois, lendo o livro “Milagres e previsões de Padre Cícero”, escrito por meu pai Zeca Marques, conheci outra versão para esta história. Segundo consta no livro, em uma conversa informal com comerciantes amigos, no tempo que a cidade ainda era iluminada por lampiões, o padre fez a seguinte previsão: “Brevemente, Juazeiro será parcialmente iluminado pela energia elétrica e, posteriormente, o município será totalmente eletrificado pela energia vinda das águas do Rio São Francisco”.
Relembrando este fato, me vem um pensamento curioso. O polêmico projeto de transposição do rio São Francisco, ora em implantação pelo governo federal, contempla a passagem de um canal nas cercanias da cidade de Aurora para revitalizar o rio Salgado, um afluente do Rio Jaguaribe. Se esta obra tornar-se viável, quem sabe se não haverá no futuro um desvio deste canal, para revitalizar o nosso moribundo rio Salgadinho? E aí, sim, as palavras atribuídas ao Padre Cícero não seriam uma metáfora, nem uma previsão, mas uma verdadeira profecia que seria cumprida na plenitude do seu sentido.
A chegada da energia de Paulo Afonso foi um marco no desenvolvimento de nossa cidade. Juazeiro foi a primeira cidade do Ceará a receber essa energia. Desde então houve uma grande transformação em Juazeiro e no modo de viver dos juazeirenses. A primeira transformação foi a substituição dos acanhados postes de madeira, e sua iluminação fraca, por bonitos postes de concreto armado com lâmpadas brilhantes. Os postes eram fabricados na Cavan, uma fábrica de pré-moldados instalada nas cercanias do bairro dos Franciscanos, hoje bairro Pirajá. Outra transformação imediata foi a desativação dos enormes geradores de energia, se não me engano em número de quatro, instalados num galpão na esquina das ruas São Pedro e Alencar Peixoto, e que funcionavam só no período das 18 às 21 horas.
A nova energia era ininterrupta e não servia apenas para iluminação. Com ela foi possível adquirir as modernas maravilhas de eletrodomésticos já existentes nas capitais e que faziam a cabeça das donas de casa das classes média e alta da cidade. Foi uma correria às compras de geladeiras, enceradeiras, liquidificadores, batedeiras de bolo, ferros de engomar, ventiladores... Paralelamente, foram substituídos o candeeiro, a lâmpada petromax, o ferro de engomar a carvão, a geladeira a querosene, e até as velas de cera que iluminavam os quadros e as imagens de santos durante à noite.
Os cinemas mudaram o horário de exibição de filmes: de uma única sessão às 19:00h passaram a ter duas sessões uma às 18:30h e outra às 20:30h, esta só para maiores de 14 anos, mesmo que o filme fosse censura livre. Os bares e restaurantes também passaram a funcionar até altas horas e novos bares, restaurantes e sorveterias foram inaugurados. Também as escolas públicas já podiam ter aulas no período noturno, beneficiando as pessoas que trabalhavam durante o dia. A praça Padre Cícero recebeu uma nova iluminação e passou a ser mais frequentada, principalmente por jovens namorados nos fins de semana.
As lojas comerciais da rua São Pedro aderiram à novidade das placas luminosas. Os cinemas colocaram vitrines para expor os cartazes dos filmes em exibição, substituindo os velhos cavaletes de madeira instalados nas esquinas das ruas próximas aos cinemas, e que tinham os nomes dos filmes e dos artistas principais escritos com tinta a óleo. O cine Capitólio, localizado onde atualmente existe o Bradesco, foi inaugurado nessa época com o seu nome estampado num colorido letreiro em néon, como já existia nos cinemas chics das capitais. Aliás, esta foi a época de ouro do cinema em Juazeiro, e merece um comentário específico de alguém que a vivenciou plenamente.
Nos meados da década de 60, o sinal da televisão de Recife começou a ser captado em Juazeiro. De início de forma precária, com mais chuviscos do que imagem. Mesmo assim muita gente comprou os primeiros aparelhos de televisão que chegavam às lojas. Afinal de contas, ter um aparelho de televisão na sala principal da casa era símbolo de status. Em pouco tempo a imagem da televisão já podia ser captada com boa nitidez e no final da década, em julho de 1969, pudemos assistir à transmissão ao vivo do grande acontecimento mundial da chegada do primeiro homem à lua.
Ao mesmo tempo em que o comercio se desenvolvia, com a instalação de várias lojas de eletrodomésticos, começaram a ser instaladas as médias industrias, dando início ao grande progresso que Juazeiro tem apresentado desde então.

Carlos Alberto Almeida Marques
Fortaleza-CE

sábado, 24 de abril de 2010

O DIA-A-DIA DA PRAÇA ALMIRANTE NOS ANOS 60 - José Carlos Pimentel


E de repente eu estava na Praça Almirante. Alguém passou e perguntou: as meninas da Escola Normal já voltaram? - Não, disse alguém. - Pergunta ali a professor Zé Neri que acabou de deixar D. Amália em Manoel Soares - Não Mestre, ela desceu com Rosinha e Genésio para aquelas bandas. Já outro agoniado indagava: - Edgar Coelho já passou para Zé do Sul? - Não, falou Darim, está esperando Ciço Lolô e Audízio na Tipografia de Aldeziro. - E Cordeiro já passou em Mascote com as amostras de biscoito das chuteiras novas? -Quem pode saber é Antônio Patú ou Zé Araújo, mas Beato e Ananias estão na porta do CRP. Olha lá! - Bem, mas antes deixa eu cumprimentar dr. Ney e Capotinho. Tá certo, Coelho Alves? - Certíssimo. – Bom-dia, Seu Alencar, posso anunciar o queima? - Fale com Adálio. - Zé Apolinário você viu teu irmão? Ô Luiz Gonçalves, tu viu Adálio? - José, ele foi tomar um caldo em Amália e passou agora mesmo conversando com Dorgival e Vicente Teixeira. - Vai subir Didi Melo? - Eu vou pela Rua São Pedro. - Seu Ademar Maia me dê um cigarro de bico de ouro? - Tem não, João Remexebucho. - Ei, Seu Antônio Ferreira, tem reunião da Congregação? – Maria, (caixa de pó) isso é com Celestino e professor Elias, mas se Tobias servir, aqui ele! - Abenção Padrjm Possidônio! - Deus abençoe José. - Como vai Compadre Ciço Preto? Olá Joaquim Mancinho, aonde vai? - Vou em Alberto Morais, depois em Manoel Oliveira e Pedro Vitalino. Compro pão em Antônio do Café e volto. - Pois passe por aqui pra gente tirar uma dúvida com Zé Fausto e ver como anda a saúde de Epifânio. - Que é que há, Manoel Balbino? -Compadre Zé Bezerra, Zé de Melo e Afonso já foram pra Prefeitura. - Pois vá chamar Compadre Zé Geraldo e Bruno Tourinho, que eu vou pro Salgadinho. - Virgem Maria, lá vem Manoel Barros e Andrelino. Só falta Dr. Feitosa! - Dobre a Conceição na calçada de Seu Manoel da Farmácia e passa na calçada de Joaquim de Souza. Vamos pegar a Padre Cícero. Na Rua Grande vê se vêm Felipe Nery e seu Ângelo de Almeida. Se dr. Edvar tiver descendo, mude o passo. Ele vai à casa de Dr. Juvêncio e quer levar a gente também. Aí a conversa é longa, pois na certa estão lá Zé Ferreira e Lauro. - Pois pare aí na barbearia de mestre Chiquinho! - Tem trocado hoje não, Evangelista. - Seu Rota viu Luiz Casimiro? - Desceu com Raimundo Gomes. – Bom-dia, Sebastião Teixeira! -Olá cap. Araújo! - Fazendo aí Gumercindo? Aguardando Leandro e Zé Maria?- Não, Propércio. Dade, minha filha, vai aplicar aquela injeção! - Logo mais quando dr. Mozart passar. - Vai se candidatar Zé Monteiro? - Zé Calado, Júlio Caldas chegou? - Tá em Bastinha conversando com João Menezes, Vavá e Silveira. Já são quase dez, vamos pro Salão Turjac? - Não, hoje é no Bar Iracema. - Arlindo Vieira tá lá? - Sei não. Só não quero ver o Meton. - Psiu, olha o Vigário. - Bom dia, mons. Lima! - Luiz Coimbra falou com Zé Viana? - Isso é com Dido. - Dr. Mário já falou com Hamilton? - Já. Com dr. Belém, dr. Geneflides e os demais. - Pois vou dar um pulinho em casa de Zeca Sapateiro, Porque não vi Chiquinho Teodósio. - Lá vem Maria Pedrina. Uma hora dessas já vai pra Matriz. Isso não é novidade, que Zé Tonico e Zé Vicente já vêm ali. - O que será que padre Coutinho e padre Silvino estão conversando na porta de Zeca Marcolino? - Homem, vamos cruzar a praça e pegar o carro de Damião ou de Teco, um dos dois vai nos levar na casa de Tonico e de lá vamos pro Bar Iracema. Encontrar Teco uma hora dessas é difícil. Se ele não tiver em Da Luz ou Iracema, no mínimo tá em Toinha de Zé Fausto. - Pelo amor de Deus, não comenta isso perto de Antônio Valderiano. Se disser que eu falei isso, eu digo que é mentira. Que tu és pior que Pedro Vicente e mestre Galdino juntos. - Pronto, olha aí Zeca Marques. Pergunta agora se é verdade que a Maçonaria tem segredo? - Não, ele tá ali no particular com Seu Modesto Costa e Seu Estelíta. - Seu Manoel Germano qual é o preço do algodão? - Só sei amanhã quando passar em António Pita.

E os nossos vários narradores foram fugindo da vista como se a Praça Almirante se tornasse um disco voador, levando para outros espaços essas figuras lendárias que povoaram a minha infância, no Juazeiro dos anos 60, umas por mim conhecidas, outras que me foram apresentadas na tradição, porque quem sabe escrever história é Daniel Walker, eu apenas sei lembrar.
José Carlos Pimentel
Advogado
A foto mostra José Carlos como era na época.

sábado, 6 de março de 2010

O CEJ NOS SEUS MOMENTOS DE GLÓRIA

“Juazeiro do Norte (De Daniel Walker Marques-correspondente) - Em sessão solene tendo como local a sede do Treze Atlético Juazeirense, foi empossada a nova diretoria do Centro Estudantal Juàzeirense, eleita por ocasião do recente pleito estudantil de 12 de setembro último.


  
NOVA DIRETORIA
 Concorreram ao pleito nada menos de quatro chapas, sendo eleita com maioria esmagadora a Chapa Rocha da Silva, que disputou em favor da situação. A nova diretoria do Centro Estudantal Juàzeirense tem a seguinte constituição: Presidente: Antônio Vieira Leite; vice-Francisca das Chagas Rocha; 1º Secretário: João Bosco Bezerra; 2º. Secretário: Socorro Macedo Figueiredo; 1º Tesoureiro: José Nelson de Sousa Silva; 2º Tesoureiro: Abner Gonçalves de Almeida (reeleito), Orador: Gualter Matos Cardoso Alencar; Bibliotecário: José Murilo Guimarães.
 POSSE E ORADORES
 A sessão solene de posse da nova diretoria que se realizou no dia 18 p. p. contou com a presença de grande número de estudantes, além dos senhores dr. Geraldo Menezes Barbosa, representando a Comissão Eleitoral, vereador Gumercindo Ferreira Lima, representando sua Excia. o prefeito municipal, que por motivo superior deixou de comparecer. A sessão teve início às 20 horas e foi encerrada às 21 horas seguindo-se uma animada tertúlia dançante, sob o comando musical do Conjunto de João Martins. Por ocasião das solenidades de investidura dos novos mandatários cejistas usaram da palavra os seguintes oradores: dr. Geraldo Menezes Barbosa, Francisco Rocha da Silva, ex-presidente; Paulo de Souza, ex-orador do CEJ, Antônio Vieira Leite, atual presidente, Gualter Matos Cardoso Alencar, atual orador, e finalmente, José Vieira Leite, irmão do novo presidente do Centro Estudantal Juàzeirens. Após ser empossado no cargo de Presidente do CEJ, o estudante Antônio Vieira Leite fez seu primeiro ato, nomeando Diretor da Polícia Estudantal o ex-presidente do CEJ, Francisco Rocha da Silva.”

Comentários: A notícia acima foi publicada no jornal O POVO, de Fortaleza, no dia 27 de setembro de 1965 e mostra como era atuante a vida estudantil juazeirense na década de 60. O CEJ era realmente um celeiro de líderes e gozava de grande prestígio junto à comunidade local. Uma eleição para escolha de sua diretoria era muito parecida como as eleições para cargos como Prefeito e Vereador. Veja-se, por exemplo, que a notícia informa que a solenidade de posse foi num clube social, o melhor da cidade na época, com direito a transmissão radiofônica feita pelo radialista Dário Maia Coimbra, o qual é visto no lado direito da foto com o microfone. Hoje o CEJ ainda existe, mas não tem o dinamismo que tinha no passado, apesar de ainda ter uma ampla sede própria, conforme mostra a foto abaixo. A foto da notícia publicada no O POVO mostra o momento em que Francisco Rocha da Silva entregava a faixa presidencial ao seu sucessor, Antônio Vieira Leite. O ex-presidente Francisco Rocha (falecido) que era muito conhecido como Rochinha além de líder estudantil foi também vereador e formou-se em Direito, tendo ocupado a secretaria do Ministério do Trabalho.
 Dos membros eleitos sabemos o paradeiro de alguns. Bosco Bezerra mora em Juazeiro, empresário. Socorro Macedo, casada com Francisco Silva Lima, é empresária em Juazeiro. Nélson também é empresário e mora em Juazeiro. Muirlo é engenheiro e reside em Fortaleza. Gualter é médico e reside em Juazeiro. Mas não sabemos onde andam: Chaguinha, Abner e Antônio Vieira. Quem sabe?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

PROFESSORANDAS NA PRAÇA.




























Veem-se, nessas fotos, algumas das mais belas jovens juazeirenses da longínqua década de sessenta. Elas estavam fardadas porque cursavam o último ano normal pedagógico do Ginásio Mons. Macedo e tinham acabado de participar da parada do Sete de Setembro de 1967.
 Como se vê, foi na Praça Padre Cícero que posaram para esse registro fotográfico destinado a perpetuar lembranças da vida estudantil e dos encontros diários no colégio
Todas elas, sem sombra de dúvida, deram voltas aí na praça principal da cidade, de braço com amigas, passando por rapazes que volteavam em sentido contrário, nas noites de domingos e feriados.
 Eram momentos de rara emoção, porque, à época, as moças de família pouco saíam de casa, e, quando saíam, normalmente estavam acompanhadas dos pais ou pessoas mais velhas, sobrando-nos poucas chances de nos aproximarmos delas.
 Por isso, aquelas noites tinham significado especial para a juventude e eram aguardadas com grande ansiedade, sobretudo pela rapaziada.
Logo cedo, antes mesmo das 19 horas, já estávamos a postos, na praça, bem vestidos, aguardando a chegada das jovens casadoiras. Elas iam chegando agrupadas e em poucos instantes tomavam conta da área destinada ao passeio. Nem precisa dizer que vinham lindas!...
 Não perdíamos tempo em procurar um lugar estratégico para vê-las de perto. Fazíamos o rodeio em sentido contrário ao da(s) pretendida(s) ou ficávamos nos bancos à margem, vendo-as passar. Todos os lances requeriam muita pressa, porque, mal o relógio da coluna batia 20 horas, elas começavam a atender à ordem de voltar para casa.
Com elas iam-se oportunidades forçosamente adiadas, que talvez não ressurgissem mais...
 Aí só nos restava comentar os acontecimentos da noite. Era hora da troca de confidências entre os mancebos. O mesmo deveria acontecer com elas, onde estivessem naquele instante.
 A praça era, pois, o lugar ideal para a gente “encostar” nas garotas, ou seja, ir ao seu encontro e lhes falar namoro. Mas, antes, era preciso flertar. Sem o flerte, o malogro seria fatal.
 A fim de evitar a decepção de levar um fora, adotávamos medidas preventivas eficazes. A primeira era incumbir um companheiro de verificar se a menina em quem estávamos interessados olhava em nossa direção, ao tempo em que fingíamos ignorar sua passagem. A constatação positiva era meio caminho andado...
 Outras vezes demorávamos a decidir encostar – pelo receio de ser malsucedidos – e a garota deixava de corresponder a nossos olhares. Isso nos trazia grande tristeza e arrependimento pela falta de ousadia.
 Costumávamos, ainda, recorrer à mediação de terceiros – um jovem ou uma jovem amiga – para arranjar o namoro. Às vezes dava certo...
 Tudo ali significava idílio, amor romântico, sonho, paixão, fantasia...
 Quando o namoro se efetivava, íamos sentar com as garotas em bancos isolados e aí se davam as juras de amor, seguidas de cheiros cheirosos e beijos gostosos, ainda que roubados...
 A praça era bem cuidada, tinha jardins floridos, árvores frondosas, dentre as quais o secular pé de juá sem espinhos plantado pelo Patriarca, sempre verde e sereno, a testemunhar a marcha do tempo. Esbeltas palmeiras e outras árvores de pequeno e médio porte (fícus-benjamim), cujas folhas eram talhadas com a forma de animais, barcos, aviões e outras alegorias compunham também a belíssima paisagem.
 E, se não bastasse isso, de cima da Coluna da Hora, os alto-falantes do CRP nos deliciavam com variados sucessos musicais de todas as épocas, incluindo-se os da emergente Jovem Guarda.
 Assim, quem viveu aqueles anos dourados, não pode ficar imune à saudade e às gratas recordações do ponto de convergência mais importante da cinquentenária Juazeiro de então, que era a nossa querida Praça Padre Cícero.
 Francisco Néri Filho
 Fortaleza - Ceará



terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

MEMÓRIA DO GINÁSIO SALESIANO: DESFILE DE 7 DE SETEMBRO

 
    Quem estudou no Ginásio Salesiano São João Bosco sabe o quanto era bonito participar do desfile de 7 de Setembro. A farda de gala (própria para a ocasião) parecia uniforme militar. Marchar pelo Colégio já era uma grande honra. Mas a glória maior era de quem fazia parte da banda (que hoje se chama fanfarra). Era preciso ser muito bom, mesmo, pois seus dirigentes (Bosco, filho de Mestre Chiquinho Barbeiro, foi um deles) eram muito exigentes e, depois, Padre Mário Balbi, o comandante geral do desfile, era mais exigente ainda. Queria tudo muito perfeito, coisa de chamar atenção. Quem não conseguia ser da banda, se contentava em participar de algum pelotão ou dos carros alegóricos, todos saídos da fértil imaginação do professor Luiz Magalhães. Também era uma honra participar do pelotão dos cavalos ou das bandeiras. Afinal de contas, o Ginásio Salesiano em matéria de brilhar no desfile do Dia da Pátria, não deixava por menos: tinha de ser o melhor! Era uma questão de ponto de honra do Padre Balbi, que a turma chamava de padre Corro, falecido no ano passado. Os ensaios preparativos para o grande dia começavam já no mês de agosto, inicialmente dentro do próprio Colégio e depois pelas ruas próximas ao colégio. A ordem de padre Mario Balbi era rígida demais: todos tinham de marchar direito, garbosamente, disciplinarmente, com galhardia, pois era preciso causar uma boa impressão. O Salesiano era sempre o último a desfilar. Era um delíquio a gente desfilar pelas ruas, especialmente pela São Pedro em direção à Praça Almirante (era assim que se chamava na época), o ponto culminante do desfile, uma espécie de Praça da Apoteose, como a que existe no desfile de carnaval do Rio de Janeiro, no Sambódromo. Quando o Salesiano chegava a praça já estava completamente lotada de gente, principalmente dos alunos das escolas que desfilaram antes. Todos queriam ver quais as novidades que o Salesiano iria trazer desta vez. A ovação era geral. Era um grande espetáculo para todos: quem participava como aluno e quem assistia como plateia. Terminado o desfile, a turma ficava na Praça flertando (hoje se diz paquerando) com alguma estudante de outra escola e quem já tinha namorada, esnobava desfilando de mãos dadas com ela (uma ousadia para a época!). Durante o tempo em que estudei no Salesiano  (1961-1964) sempre nutri um grande desejo de participar da banda. Tentei tocar tarol (caixa), mas fui reprovado várias vezes, pois não tinha cadência. Finalmente, no último ano, consegui uma vaga... porém tocando tambor. Mas foi uma glória! De outra vez participei do pelotão das bandeiras. Me lembro de Bolinha (Wilton, filho de seu Joaquim Mancinho, comerciante já falecido) tocando impecavelmente o zabumbão. Ele era o mais alto e gordo da turma. Esse instrumento só podia ser tocado por rapaz de grande porte, pois é um instrumento muito pesado. Na foto mostrada aqui, quem está tocando esse instrumento é Hélio, pois não consegui nenhuma foto com Bolinha. Os carros alegóricos idealizados por professor Luiz eram um caso à parte. Eram uma coisa tão rica quanto os carros alegóricos que hoje vemos no carnaval do Rio de Janeiro.  Ele sempre mostrava fatos históricos e escolhia a dedo quem iria ser fantasiado de Dom Pedro, de Tiradentes, de algum bandeirante ou de índio. E nesse ponto era muito exigente. A fantasia era luxuosa, cara, portanto; mas qual era o pai de família que não gastava o dinheiro contente por ver ser filho  representando personagem tão importante? Ser Dom Pedro por algumas horas poderia... quem sabe? trazer como recompensa... uma namorada! Por isso, a expectativa de receber o convite do professor Luiz era muito grande e contagiava a nós todos. 
       Era isso que estava guardado na minha memória sobre o Salesiano no desfile de 7 de Setembro em Juazeiro do Norte nos Anos 60. Se você viveu também esta inesquecível experiência faça seu comentário ou conte alguma coisa. Se tem foto, mande-nos para  que possamos melhorar a nossa galeria.(Daniel Walker)


 

sábado, 30 de janeiro de 2010

JUAZEIRO ANOS 60 - Daniel Walker

No momento em que este município caminha para comemoração do seu Centenário de Independência Política cresce entre um grupo de saudosistas locais a ideia de guardar a memória dos Anos 60 em Juazeiro do Norte. Existe uma razão muito forte para isto, pois foi naquela década que aconteceram transformações bastante significativas na vida desta cidade.
Eis aqui algumas:
NO CAMPO POLÍTICO: aconteceu o fim da era Feitosa, o início da era Bezerra e o surgimento da era Mauro Sampaio; extinguiram-se UDN e PSB e surgiram Arena e MDB; desapareceu o tempo dos gogós e carrapatos, representados por Zé Geraldo e Dr. Feitosa, respectivamente.
NO CAMPO ECONÔMICO: realizou-se a primeira Feira Industrial do Cariri, até hoje um marco na história econômica de Juazeiro; outro marco foi a implantação do Projeto Azimov.
NO CAMPO CULTURAL E DE ENTRETENIMENTO: a Jovem Guarda contaminava o Brasil e seus reflexos ocoavam também em nossa cidade com o aparecimento de bandas de rock, como o conjunto Jovem Guarda, Os Barulhentos, entre outros, e grupos teatrais, como Desafio; o cinema vivia seu tempo áureo com superlotação nos cines Eldorado e Capitólio, nas exibições de fitas inesquecíveis como as românticas Candelabro italiano, Dio como te amo, os bang-bangs italianos com Giuliano Gemma, Franco Nero, Clint Westwood, os cômicos com Jerry Lewis; as noites ficavam mais alegres com shows ou partidas de futebol de salão na Quadra João Cornélio e o velho CRP, embora sendo um serviço de altofalantes tinha status de emissora de rádio.
NO CAMPO EDUCACIONAL: três grandes escolas despertavam as atenções dos estudantes: Escola Normal, Ginásio Monsenhor Macedo e Ginásio Salesiano; no Dia da Pátria fazia gosto vê-los desfilar.
NO CAMPO DA IMPRENSA E RADIOCOMUNICAÇÃO: nasceu o jornal Tribuna de Juazeiro, símbolo de vanguarda da imprensa juazeirense até então; a inauguração da Rádio Progresso quebrava a liderança isolada da Rádio Iracema. Foi naquela década que surgiram na imprensa e no radiojornalismo os nomes que ainda hoje brilham no ramo. Programas como Discoteca do fã de Geraldo Alves, A cidade se diverte com Donizeti Sobreira, Coluna da Hora com Xexéu e Cajarana, Delegacia das lamentações com Walter Barbosa e Leofredo Pereira, entre tantos outros, dominavam em audiência. A Praça Almirante (que naquele tempo tinha seus bancos de marmorito) era o principal cartão-postal da cidade, o local onde tudo acontecia, um desfile diário de meninas bonitas. Foi lá que muitos casais de namorados trocaram seu primeiro beijo; foi lá também onde muitos namoros começaram e terminaram. E lá, no famoso Banco dos Velhos, figuras ilustres de Juazeiro dialogavam e traçavam os destinos da cidade. Nos Anos 60 a gente conhecia os vereadores (Gumercindo, Elizeu, Raimundinho...); os donos de lojas (Seu Raimundo Morais, João Lopes, João Ribeiro, Mário Vidal...); os médicos (dr. Belém, Mozart, Gilson , Odílio, Nilton, Possidônio, Hildegardo...); as autoridades (dr. Edwar, dr. Alênio...); comprava rolete de cana na Feirinha da Rua São Pedro; comprava presentes na Casa Morais, merendava na Beira Fresca, no Jaçanã Lanches, nas Sorveterias Rex, Havaí, Alvorada; ouvia atentamente as “loucuras” de Príncipe Ribamar; aprendia datilografia com professor Elias; tirava retrato 3x4 em Targino ou Raimundo Oliveira; era sócio do CEJ; participava de Encontro de Jovens; comprava cautelas do Festival Gonzaga; se divertia no Carrossel Maia; assistia à Missa de Natal na Praça Almirante e por aí vai.
Por tudo isso e mais alguma coisa, os Anos 60 em Juazeiro devem mesmo ficar guardados para sempre na memória de Juazeiro, especialmente na memória dos que viveram aquela época. E para tanto, já foi dado o tiro de largada: foi criado este blog para ser o local onde essa memória será guarda para a posteridade. Nele será arquivado tudo: fotos, depoimentos, notícias, enfim, o que foi feito por quem viveu ou presenciou os fatos daquela inesquecível época.
Portanto, todos que moraram em Juazeiro nos Anos 60 estão sendo convocados para participar do empreendimento. Depois o conteúdo do blog será transformado num bonito livro para que todos tenham em casa, na biblioteca, o Juazeiro dos Anos 60. Você que foi protagonista dessa história, participe!
É impossível mergulhar no Juazeiro dos Anos 60 sem emergir com os olhos cheios de lágrimas. Não lágrimas de choro, mas lágrimas de alegria. Alegria de ter participado de uma época dourada, gloriosa e inesquecível.
Na próxima postagem começaremos a mostrar JUAZEIRO NOS ANOS 60 e contamos com vocês. COLABORE TAMBÉM MANDANDO PARA SEUS CONTATOS DE E-MAIL O ENDEREÇO DESTE BLOG.