sábado, 12 de junho de 2010

A CHEGADA DA LUZ DE PAULO AFONSO EM JUAZEIRO
















Praça do Cinquentenário. Carlos Alberto

Tenho muitas lembranças agradáveis dos anos 60 em Juazeiro. No momento, quero relembrar um dos acontecimentos mais importantes para a nossa cidade e que mais marcou minha adolescência. Foi a chegada da energia da CHESF, ou da luz de Paulo Afonso, como era chamada a energia elétrica proveniente da hidroelétrica de São Francisco. O fato ocorreu no início da década de 60, mais precisamente no dia 22 de julho de 1961, data em que foi oficialmente comemorado o Cinquentenário de emancipação política de Juazeiro do Norte.
Para marcar para a posteridade este grande acontecimento, foi também inaugurada a Praça do Cinquentenário e construído um monumento. Ambas as obras foram mal feitas e tinham um estilo arquitetônico duvidoso. Foram construídas às pressas e, no dia da inauguração, apresentavam aspecto de inacabadas. Estas obras foram implantadas na nossa inesquecível pracinha, o lugar de nossas brincadeiras de criança, e foram demolidas anos depois para a construção do Memorial Padre Cícero. Quer dizer, foram construções provisórias e, no final das contas, a cidade ficou sem nenhum marco indicativo da chegada da energia de Paulo Afonso. A placa comemorativa, que estava afixada no monumento demolido, não foi reposicionada na nova obra do Memorial. Aliás, não sei se esta placa sumiu na demolição ou se ainda existe, abandonada em algum depósito da Prefeitura.
Mas não é minha intenção no momento fazer nenhuma crítica a esses fatos. Eu quero mesmo é deixar meu registro sobre o mais importante acontecimento ocorrido na década de 60 em Juazeiro.
A solenidade de implantação da energia de Paulo Afonso contou com a presença dos mais importantes políticos do estado e do governo federal, além de diversas autoridades. Todos ocuparam o palanque montado na recém inaugurada praça do cinqüentenário e alguns fizeram discursos ufanistas, agradecendo os esforços do presidente da república e do governo do estado e, como não poderia deixar de ser, enaltecendo o nosso Padre Cícero. Foi tudo muito correto, sem disputas políticas e com muitos aplausos da grande multidão presente.
Era um momento de euforia geral e os juazeirenses estavam agradecidos. Lembro-me que um dos oradores citou uma profecia atribuída a Padre Cícero, segundo a qual um dia as águas do rio São Francisco banhariam as ruas de Juazeiro. De acordo com esse orador, o padre Cícero teria usado uma metáfora e que, quando falou em águas banhando as ruas de Juazeiro, ele quis se referir justamente aos fios elétricos que conduziam a energia gerada na usina de Paulo Afonso. Vários anos depois, lendo o livro “Milagres e previsões de Padre Cícero”, escrito por meu pai Zeca Marques, conheci outra versão para esta história. Segundo consta no livro, em uma conversa informal com comerciantes amigos, no tempo que a cidade ainda era iluminada por lampiões, o padre fez a seguinte previsão: “Brevemente, Juazeiro será parcialmente iluminado pela energia elétrica e, posteriormente, o município será totalmente eletrificado pela energia vinda das águas do Rio São Francisco”.
Relembrando este fato, me vem um pensamento curioso. O polêmico projeto de transposição do rio São Francisco, ora em implantação pelo governo federal, contempla a passagem de um canal nas cercanias da cidade de Aurora para revitalizar o rio Salgado, um afluente do Rio Jaguaribe. Se esta obra tornar-se viável, quem sabe se não haverá no futuro um desvio deste canal, para revitalizar o nosso moribundo rio Salgadinho? E aí, sim, as palavras atribuídas ao Padre Cícero não seriam uma metáfora, nem uma previsão, mas uma verdadeira profecia que seria cumprida na plenitude do seu sentido.
A chegada da energia de Paulo Afonso foi um marco no desenvolvimento de nossa cidade. Juazeiro foi a primeira cidade do Ceará a receber essa energia. Desde então houve uma grande transformação em Juazeiro e no modo de viver dos juazeirenses. A primeira transformação foi a substituição dos acanhados postes de madeira, e sua iluminação fraca, por bonitos postes de concreto armado com lâmpadas brilhantes. Os postes eram fabricados na Cavan, uma fábrica de pré-moldados instalada nas cercanias do bairro dos Franciscanos, hoje bairro Pirajá. Outra transformação imediata foi a desativação dos enormes geradores de energia, se não me engano em número de quatro, instalados num galpão na esquina das ruas São Pedro e Alencar Peixoto, e que funcionavam só no período das 18 às 21 horas.
A nova energia era ininterrupta e não servia apenas para iluminação. Com ela foi possível adquirir as modernas maravilhas de eletrodomésticos já existentes nas capitais e que faziam a cabeça das donas de casa das classes média e alta da cidade. Foi uma correria às compras de geladeiras, enceradeiras, liquidificadores, batedeiras de bolo, ferros de engomar, ventiladores... Paralelamente, foram substituídos o candeeiro, a lâmpada petromax, o ferro de engomar a carvão, a geladeira a querosene, e até as velas de cera que iluminavam os quadros e as imagens de santos durante à noite.
Os cinemas mudaram o horário de exibição de filmes: de uma única sessão às 19:00h passaram a ter duas sessões uma às 18:30h e outra às 20:30h, esta só para maiores de 14 anos, mesmo que o filme fosse censura livre. Os bares e restaurantes também passaram a funcionar até altas horas e novos bares, restaurantes e sorveterias foram inaugurados. Também as escolas públicas já podiam ter aulas no período noturno, beneficiando as pessoas que trabalhavam durante o dia. A praça Padre Cícero recebeu uma nova iluminação e passou a ser mais frequentada, principalmente por jovens namorados nos fins de semana.
As lojas comerciais da rua São Pedro aderiram à novidade das placas luminosas. Os cinemas colocaram vitrines para expor os cartazes dos filmes em exibição, substituindo os velhos cavaletes de madeira instalados nas esquinas das ruas próximas aos cinemas, e que tinham os nomes dos filmes e dos artistas principais escritos com tinta a óleo. O cine Capitólio, localizado onde atualmente existe o Bradesco, foi inaugurado nessa época com o seu nome estampado num colorido letreiro em néon, como já existia nos cinemas chics das capitais. Aliás, esta foi a época de ouro do cinema em Juazeiro, e merece um comentário específico de alguém que a vivenciou plenamente.
Nos meados da década de 60, o sinal da televisão de Recife começou a ser captado em Juazeiro. De início de forma precária, com mais chuviscos do que imagem. Mesmo assim muita gente comprou os primeiros aparelhos de televisão que chegavam às lojas. Afinal de contas, ter um aparelho de televisão na sala principal da casa era símbolo de status. Em pouco tempo a imagem da televisão já podia ser captada com boa nitidez e no final da década, em julho de 1969, pudemos assistir à transmissão ao vivo do grande acontecimento mundial da chegada do primeiro homem à lua.
Ao mesmo tempo em que o comercio se desenvolvia, com a instalação de várias lojas de eletrodomésticos, começaram a ser instaladas as médias industrias, dando início ao grande progresso que Juazeiro tem apresentado desde então.

Carlos Alberto Almeida Marques
Fortaleza-CE

2 comentários:

  1. Que saudades tenho dessa praça, quantas lembranças boas dessa década( até 68 quando vim para o Rio de Janeiro)foi ai que desfilei com a primeira namorada, quantas voltas davamos no perímetro central flertando com as garotas ou simplesmente batendo papo com os amigos antes de irmos para o treze ou o doze e fechando à noite na boite acapulco do saudoso Ferrer. Lembranças ainda das noites que antecediam os festejos natalinos com a praça toda decorada e iluminada.bons tempos que ficaram para tras mas que matenho vivo em minha memoria.
    Este painel descrito pelo amigo Pimentel, parece que estou vendo como se fosse hoje, todas essas figuras e pessoas que marcaram uma época de ouro em Juazeiro

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  2. Parabéns ao Carlos Alberto pela reportagem.Fui colega dele no Salesiano por muito tempo.ele sempre foi o primeiro da classe.como gostaria de ter contato com ele.
    Fernando Maia da Nóbrega(marbravil@hotmail.com)

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