sábado, 3 de dezembro de 2016

JUAZEIRO DO MEU TEMPO: WALTER BARBOSA, PAIXÃO POR JUAZEIRO - POR JOTA ALCIDES

Quem é um grande homem? O genial filósofo francês, Albert Camus, dá a pista: "A grandeza do homem consiste na sua decisão de ser mais forte que a condição humana". Como fundador e presidente da Associação Juazeirense de Imprensa(AJI), desde 1965, ele batalhou, incansavelmente, pelo reconhecimento e pela valorização do papel da mídia na defesa e promoção dos interesses, das causas e aspirações do povo de Juazeiro do Norte. Fez da AJI uma trincheira própria para sua realização como jornalista combatente e combativo sempre empunhando a bandeira azul-amarelo do Juazeiro. Em permanente estado de alerta e de plantão na presidência da AJI, passou a ser respeitado, admirado e consultado em todas as questões onde apareciam em jogo os interesses do Juazeiro porque, para ele, Juazeiro estava sempre em primeiro lugar. Valente, determinado, dinâmico e vibrante, assim era Walter Barbosa, jornalista, radialista, advogado, contador, professor, escritor e sobretudo defensor ardoroso do Juazeiro. Não era poeta, nem cantor, mas tudo que fazia tinha o mesmo sentimento de Casimiro de Abreu, seu poeta preferido: "Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha". Foi com esse espírito que Walter Barbosa escreveu belas páginas de intensa atuação em favor da cidade no Juazeiro do Meu Tempo, anos finais da década de 1960. Ganhou fama e prestígio como jornalista e intelectual, mas sua popularidade se expandiu com raízes profundas da árvore da caridade que plantou para dar sombra, conforto e esperança aos mais humildes e mais carentes. Além da AJI, Walter Barbosa presidiu várias instituições sociais, educativas, culturais e classistas, destacando-se: Sociedade de Amparo aos Mendigos, União Contabilista Juazeirense, Associação dos Empregados no Comércio de Juazeiro do Norte, Rotary Club e Fundação José Barbosa dos Santos, sendo também Venerável da Loja Maçônica Evolução Nordestina. Ex-estudante do Colégio Salesiano do Juazeiro, Walter Barbosa, extrovertido e expansivo, não parecia religioso mas era uma espécie de filósofo cristão, apologista das três virtudes teologais, fé, esperança e caridade, conforme se depreende de alguns dos seus pensamentos colecionados pelo escritor e historiador Raimundo Araújo; Como professor, gostava de alertar seus alunos para o lado transcendental da vida:. "Sem Deus você não será nada. Deus foi quem lhe deu a vida e vem lhe mostrando todo dia sua vontade em ajudá-lo. Seja amigo de Deus, sendo amigo das pessoas".Quanto à caridade, incluía nela a atenção devida aos mais idosos. "É preciso ter paciência e caridade para com os velhos. Um dia nós chegaremos também a envelhecer e precisaremos da paciência e caridade dos outros".Com seu espírito religioso,era mais do que um devoto do Padre Cícero, aproveitando as chances que tinha para exaltá-lo "O Padre Cícero é um santo. O que ele sofreu sem reclamar e o que fez de bom na terra, mostra sua grandeza de coração e espírito".Seguindo o exemplo do Padre Cícero, Walter Barbosa tinha uma visão própria do sofrimento: "Quando estiver sofrendo, não se desespere. Existe um Deus tão bom que estará ao seu lado para encorajá-lo. O sofrimento aprimora o coração e purifica a alma.Posso agora medir quanto o sofrimento me aproximou de Deus. Minha vida mudou muito". Que sofrimento foi esse? Apesar de ter uma vida agitada, com inúmeras atividades vistas e admiradas por todos, poucos sabem que ele sofreu durante muitos anos de distúrbio cerebral gerador de convulsões. Sofreu muito com ataques inesperados, traiçoeiros e incontroláveis. Certa vez, ia atravessando a Praça Padre Cícero, à noite, quando teve um ataque em frente a estátua do Padim. Caiu e ficou se debatendo. Casualmente, estava no local, num banco da praça, seu irmão, o cronista Menezes Barbosa. Sabedor do problema, o cronista foi imediatamente acudi-lo. Quando acalmou e acordou, Walter, desnorteado, perguntou o que tinha acontecido. E ouviu de Menezes Barbosa palavras de compreensão, solidariedade, fraternidade e carinho: "Foi nada não, meu irmão. Foi apenas uma topada. Já passou, vamos pra casa". Depois disso, fez tratamento em São Paulo e melhorou. Mesmo com todo ao limites dessa enfermidade, Walter Barbosa era um gigante em intensa atividade, sem parar. Na Cultura, Walter Barbosa foi o maior incentivador no Juazeiro dos grupos de folguedos regionais e tradicionais do Cariri. Sob sua liderança, os grupos de bandas cabaçais, dançadores de coco e maneiro-pau do Juazeiro, representantes das danças singelas de índios e caboclos, desde tempos imemoriais, deram show e fizeram o maior sucesso no 1º Festival de Folclore do Ceará, realizado em Fortaleza em 1965. Foi a maior demonstração de vitalidade do folclore do Juazeiro Embora desenvolvesse intensas ações nos campos da assistência social, educação, radiofonia e cultura, foi nessa época de ouro do rádio no Cariri, que Walter Barbosa se consagrou como radialista. Comandou um dos programas de maior audiência na história do rádio caririense; "Delegacia das Lamentações", na Rádio Progresso do Juazeiro, que tinha como trilha sonora a linda música African Beat, com a maravilhosa orquestra de Bert Kaempfert, Um dia, sai caminhando da casa de minha tia Leonildes Lima, no final da rua Santa Luzia, no bairro de São Miguel, até o centro, indo para a emissora. Fiquei impressionado. Dentro das casas, de cada dez, seis estavam ligadas na Progresso, ouvindo a Delegacia das  Lamentações e quatro ligadas na Rádio Iracema, ouvindo Xexéu e Cajarana, com Alceli Sobreira e Assis Ferreira(Escurinho). Obviamente, o programa do Xexéu já tinha alguns anos e uma audiência consolidada. Mas agora enfrentava um concorrente de peso que estava lhe tirando gorda fatia do bolo de audiência: 60%, um número altamente expressivo. "Delegacia das Lamentações" era um programa de linguagem policial, mas de diversão inocente, sem a baixaria verborrágica dos programas policiais da atualidade. Walter fazia o papel do severo Delegado 70, dando respostas e decisões sobre lamentações e reclamações dos ouvintes apresentadas por Leofredo Pereira, no papel de Cabo Corrijo. Ao relatar as lamentações e reclamações, o Cabo Corrijo acabava se metendo em situações hilárias, recebendo corretivos do Delegado 70. Foi um programa que conquistou o Cariri e ainda hoje é lembrado com muita saudade. Até pedem a sua volta. Walter Barbosa, nascido em 6 de novembro de 1929, filho de José Barbosa dos Santos e Francisca Menezes Barbosa, teve oito irmãos:Geraldo Barbosa, João Barbosa, Zezinho Barbosa, Terezinha Barbosa, Ana Maria Barbosa, Maria Ivone Barbosa e Maria Felicidade Barbosa.Seguiu o exemplo do pai com prole numerosa: teve também nove filhos, sete do seu primeiro casamento com Maria Edite Figueiredo Barbosa,e mais dois do. segundo casamento, com Terezinha de Fátima Figueiredo Barbosa. Como jornalista, foi também correspondente no Juazeiro do Correio do Ceará, então o segundo mais importante jornal do Ceará Como escritor, deixou três livros: "Folclore Juazeirense" "Roteiro Turístico de Juazeiro do Norte" e "Padre Cicero, pessoas, fotos e fatos" . Como professor, tinha a mesma crença do educador Paulo Freire: "Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão". Assim, Walter Barbosa fez-se mais forte que sua condição humana. Brilhou intensamente na constelação da geração romântica do Juazeiro do Meu Tempo. Morreu em 1º de julho de 1991, num hospital em Fortaleza. Se vivo fosse, talvez não cantasse mais sua terra como Casimiro de Abreu cantou sua Barra de São João (RJ). Certamente, hoje, vendo Juazeiro nas mãos de aventureiros, oportunistas, inescrupulosos, hipócritas, mercenários, vendilhões e venais, morreria de vergonha, tristeza e desgosto. Walter Barbosa entendeu o enigma da existência e fez sua própria história dentro da história do Juazeiro. Ele amava Juazeiro. ardorosamente, plenamente, fervorosamente, romanticamente, apaixonadamente! .

*Jota Alcides, jornalista e escritor, é autor de "PRA-8 O Rádio no Brasil" e "O Recife, Berço Brasílico"-

2 comentários:

  1. Artigo muito bem escrito e uma homenagem maravilhosa e oportuna.

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  2. Fantastico! eu sou neto do Walter Barbosa. Fico muito feliz em ver a vida dele descrita.

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