sábado, 15 de outubro de 2016

JUAZEIRO DO MEU TEMPO. DANIEL WALKER: NOBRE MISSÃO - Por Jota Alcides

"Onde as necessidades do mundo e os seus talentos se cruzam, aí está a sua vocação". Este é o entendimento do filósofo grego Aristóteles considerando que vocação e talentos são coisas diferentes. Vocação é um chamado de Deus, um dom divino. Como descobriu a brilhante escritora ucraniana abrasileirada pernambucana, Clarice Lispector, "pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir". Já o mestre Danton Jobim, advogado, jornalista, escritor, professor e político brasileiro, diretor do lendário Diário Carioca (1928-1965), o jornal que mudou a imprensa brasileira, presidente da Associação Brasileira de Imprensa(1966-1972), Prêmio Maria Cabot de Jornalismo da Universidade de Columbia-EUA-(1952) e autor de "O Espírito do Jornalismo", dizia: "O jornalista é um profissional e basta que seja um homem honrado e sensato, segundo os padrões morais de seu tempo, para que cumpra sua missão". Tudo certo, mas para isso, é fundamental que tenha vocação. Um jornalista que não tenha formação superior em Jornalismo, mas tenha o espírito do jornalismo, pode ser muito mais jornalista do que um jornalista que tenha formação superior em Jornalismo, mas não tenha o espírito do Jornalismo. Juazeiro do Norte tem um exemplo emblemático: Daniel Walker, jornalista, radialista, pesquisador, professor, escritor, historiador, mas, acima de tudo, jornalista. No Juazeiro do Meu Tempo, anos finais da década de 1960, época de ouro do rádio no Cariri, Daniel Walker brilhou como redator e apresentador de jornal na Rádio Iracema do Juazeiro e como jornalista correspondente de "O Povo", então maior e mais importante jornal do Ceará. Nascido no Juazeiro em 6 de setembro de 1947, filho do ourives José Marques da Silva (Zeca Marques) e da professora Maria Almeida Marques, herdou do pai o senso de lapidação da notícia como uma jOia e da mãe o gosto pelo magistério. Formado em Biologia pela Urca e pós-graduado em Ciências pela UFC, Daniel Walker é dono do maior acervo de pesquisas e estudos sobre a história do Padre Cícero e Juazeiro o que lhe confere um título que ele muito aprecia: "Guardião da Memória do Juazeiro". Professor aposentado da Urca, é um dos fundadores do Instituto Jose Marrocos de Pesquisas Socio-Culturais-IPESC, que muito tem contribuído, de forma acadêmica, para o desenvolvimento cultural do Juazeiro. Culto, observador, pesquisador, escritor e professor, Daniel Walker parece um cientista, até fisicamente, desses de laboratório, mas, na verdade, ele usa, criativa e inteligentemente, a metodologia, a objetividade, a imparcialidade e a racionalidade da Ciência, onde tem sua formação superior, a serviço do jornalismo que é sua verdadeira vocação. Começou sua carreira jornalística, em 1964, redigindo e apresentando noticiário, na Amplificadora Domingos Sávio, que funcionava, internamente, no Colégio Salesiano do Juazeiro. Com ele, na amplificadora, os amigos Vital Tavares, Wellington Amorim, José Marques Filho, Jussier Cunha e Renato Casimiro. Logo em seguida, passou a atuar no Saci-Serviço de Altofalantes Cícerópolis no centro da cidade. Já no ano seguinte, 1965, convidado , pelo diretor da Rádio Iracema do Juazeiro, Coelho Alves, ingressou na emissora pioneira da cidade, onde ficou até 1971: "Minha maior glória no rádio foi ter redigido e apresentado, com Coelho Alves, o Grande Jornal Sonoro Iracema" e atuado ao lado de Alceli Sobreira, Maciel Silva, Aguinaldo Carlos e Geraldo Batista", confessa. Paralelamente ao trabalho no rádio, foi Redator-Chefe do jornal "Tribuna do Juazeiro", fundado pelo jornalista Aldemir Sobreira, e correspondente do jornal O Povo, de Fortaleza, de 1965 a 1972, quando ganhou muito prestígio na sociedade do Juazeiro e do Cariri: "Foi minha glória jornalística", resume com saudade do tempo em que éramos saudavelmente arrastados pelos ventos dos sonhos. Em 1984, realizou seu sonho de ser dono de uma emissora de rádio. Ao lado de Coelho Alves, Cícero Antônio, Francisco Silva Lima e Adauto Bezerra Junior, inaugurou a Rádio Transcariri-FM, a primeira emissora FM do interior do Ceará., hoje Radio Tempo, denominação que não significa nada para o povo do Juazeiro. Então, como Secretário de Redação da antiga EBN-Empresa Brasileira de Notícias, eu tinha relações institucionais e de amizade com Rubens Furtado, Secretario de Radiodifusao do Ministério das Comunicações, e dei minha forcinha para que esse sonho se realizasse. Com satisfação, compareci à inauguração da emissora, em 21 de abril de 1984, um momento de grande alegria para o Juazeiro. Como escritor, Daniel Walker é autor de vários livros sobre Padre Cícero e Juazeiro, entre eles Sabedoria do Padre Cícero, História da Independência de Juazeiro do Norte, O Pensamento vivo de Padre Cícero e Padre Cícero na Berlinda. Em todas essas atividades, Daniel Walker sempre demonstrou, claramente, possuir o espírito do jornalismo de Danton Jobim, atuando com habilidade, sensibilidade, criatividade, sagacidade, instinto, isenção, inteligência, humanismo, ética, competência, honestidade e responsabilidade. Carrega consigo uma carga preciosa de formação cultural e de formação moral, adquirida no Colégio Salesiano do Juazeiro, onde estudou de 1961 e 1964, tempo do inesquecível diretor Padre Gino Moratelli, que parecia mais um afável reitor. Lá passou os melhores momentos de sua vida estudantil, acumulando conhecimento num ambiente saudável de muita alegria, afeição, criatividade, companheirismo, confraternização e emoção. Para seu amigo de mais de 50 anos, professor e pesquisador Renato Casimiro, Daniel Walker é "um exemplo de personalidade irretocável". Com a chegada da Internet e das novas tecnologias de informação e comunicação, Daniel Walker tornou-se criador do primeiro jornal eletrônico de Juazeiro, o Juaonline, fundado em 2004. Depois de completar 250 edições, o jornal virou o Portal de Juazeiro (www.portaldejuazeiro.com), até hoje um dos mais importantes sites noticiosos da região do Cariri. É um jornalista nato, por vocação. É formado em Biologia, que estuda a vida humana enquanto existência, mas sua praia, onde nada de braçadas, é mesmo o Jornalismo, que estuda a vida humana, enquanto convivência. Para se alcançar o sucesso profissional no jornalismo é preciso exercê-lo com vocação, caráter, ética, talento, esforço, disciplina e dedicação. Daniel Walker reúne isso tudo e segue o mandamento que está numa frase do genial Gabriel Garcia Marquez: "A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro". Nesse sentido, é recomendável às novas gerações do Juazeiro que desejam seguir o caminho do Jornalismo, agora que existe o Curso de Jornalismo na Universidade Federal do Cariri(UFCA), no Juazeiro, que só o façam se tiverem vocação. Quem usa o Jornalismo para ganhar dinheiro, adquirir riqueza, não faz jornalismo, faz picaretagem e disso também há exemplo no Juazeiro, infelizmente. Picaretagem não é jornalismo, é picaretagem. E picaretagem não tem a companhia do besouro da ética. Portanto, em primeiro lugar vocação, porque mais do que profissão, o jornalismo é vocação. Sou jornalista formado na Universidade Católica de Pernambuco e pós-graduado pela Universidade de Brasília, estou chegando aos 50 anos de carreira, já ocupei cargos diretivos importantes em grandes empresas de comunicação do Brasil (Rede Globo, Jornal do Commércio, do Recife, e Correio Braziliense, de Brasília), e posso garantir-lhes que a força motriz de tudo é, o tempo todo, minha vocação, que descobri aos 12 anos fazendo jornais murais como estudante salesiano. Quando se faz Jornalismo por vocação, faz-se não por obrigação, mas por diletantismo, condição básica para a realização pessoal e profissional. O sentido obrigatório tira o prazer, a ausência de prazer trava a criatividade, a falta de criatividade bloqueia a dedicação, e a falta de dedicação impede a chegada ao sucesso. Eficiência, competência e experiência são importantes, mas somente a vocação gera resolução, dedicação, comando e liderança para o jornalista ser diferenciado. O modelo empresarial do jornalismo está mudando por causa da WEB e das novas tecnologias. Paradoxalmente, enquanto o jornalismo tradicional está quebrado ou quebrando pelos custos altíssimos e pela queda da receita publicitária, nunca na história da humanidade as pessoas consumiram tantas notícias. Uma coisa essencial do jornalismo, porém, não muda: vocação com sentido de missão. Assim sendo, sigam o exemplo de Daniel Walker, que descobriu cedo sua verdadeira vocação e atendeu ao seu chamado fervorosa e generosamente cruzando seus talentos com as necessidades do Juazeiro, sempre sob a bandeira do diletantismo.. Ganhou o sucesso inevitável, pois como já proclamou o jornalista, editor, escritor, filantropo, abolicionista, cientista e diplomata estadunidense Benjamim Franklin, "aquele que tem uma profissão tem um bem; aquele que tem uma vocação tem um cargo de proveito e honra". Daniel Walker acreditou na sua vocação como um dom irrevogável de Deus sendo extremamente fiel à sua missão e contribuindo inquestionavelmente para o enriquecimento, o prestígio e a grandeza da história da imprensa no Cariri. Desse modo, realizou o seu próprio destino de felicidade, questão de honra ao mérito. Afinal, Daniel é a prova de que jornalismo não é profissão, é vocação. E a missão de Deus para cada um está escrita na vocação. No caso do Jornalismo, a missão principal é reproduzir e interpretar a realidade, induzir e promover intenções, disseminar ideias, cultivar ideais, preservar valores e mudar comportamentos, influenciando o metabolismo social e contribuindo para a transformação e o desenvolvimento da sociedade. É uma missão amplamente nobre e apaixonante. E Daniel Walker tem vivido ao longo dos últimos 51 anos esse Espírito do Jornalismo, cruzando seus talentos com as necessidades do Juazeiro, assim obtendo reconhecido sucesso e merecido aplauso, pelo seu saber histórico, como historiador do passado e professor de história do presente fazendo a história do futuro. Parabéns!. .

*Jota Alcides, jornalista e escritor, é autor de "Padre Cícero, O poder de Comunicação" e "Comunicação & Linguagem das Massas"-


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